25/08/2012
Diário de Canoas
Comunidade | Pág. 6
Clipado em 25/08/2012 09:08:52
Não há limites para quem está determinado
Aos 48 anos, aluna surda se forma em Contábeis

Canoas - A história de Graceli de Vargas Lopes comprova que não existem obstáculos intransponíveis quando estamos dispostos a lutar por nossos sonhos. Aliás, como ela mesmo diz: "Os nossos limites somos nós que impomos." Ao pegar seu diploma de bacharel em Ciência Contábeis pela Ulbra no último sábado, Graceli teve sua maior conquista nestes 48 anos de vida. Mesmo com apenas 38% da sua capacidade de audição - isso graças à utilização de uma prótese auditiva - ela resolveu encarar o desafio de voltar a estudar após 20 anos para buscar a graduação no ensino superior. O caminho até a diplomação não foi fácil. Antes de ingressar na Ulbra, em 2007, chegou a procurar outras instituições.

Mas algumas não possuíam estrutura para atender alunos com eficiência, como, por exemplo, intérpretes de Língua Brasileira de Sinais. "Na Ulbra me disseram que se eu conseguisse passar no vestibular, as portas estariam abertas", conta. Aprovada, teve que trancar o curso depois dos dois primeiros anos. "Não conseguia acompanhar. Interpretar contabilidade é complicado. Tive que parar e aprender a falar."

Aprendeu a falar e a "ouvir" os lábios

Foram 12 meses de trabalho intenso com uma fonoaudióloga. Duas horas diárias, três vezes por semana. "Tive apoio total da Ulbra", ressalta Graceli Lopes, que atualmente trabalha no setor de Contabilidade da universidade. Como aprendeu a falar e ler lábios, ao retomar os estudos dispensou o auxílio do intérprete. "A partir do momento que comecei a falar tive mais acesso. Antes me sentia excluída.

Sempre tinha que fazer os trabalhos em grupo separada. Cho
rei muito. Não conseguia acompanhar", revela. Por tudo isso, a formatura teve um sabor todo especial. "Foi muita emoção. O ápice da felicidade. Sensação de que a gente pode tudo o que se prontifica e decide fazer." O próximo passo será fazer um pós. A intenção é cursar especialização para tentar comprovar sua tese de conclusão do curso: Eu, surda, posso exercer a profissão de contabilista? A resposta ela acredita já ter. "Se cheguei até aqui, não há limites", confia.

No mundo dos livros
A hoje contabilista começou a perder a audição ainda pequena. Aos 1 5 anos, sofreu novo revés coma morte dos pais. Em função disso, passou nove anos internada em uma instituição federal, onde concluiu o segundo grau. Mais de duas décadas depois, resolveu fazer um curso de uma escola para deficientes. Lá conheceu um técnico em informática que era cego e surdo. "Ele me disse: Se eu posso, tu pode muito mais", lembra. Foi o empurrão que faltava para que Graceli Lopes buscasse seu espaço no universo acadêmico. "Meu mundo sempre foi os livros. Minha fuga era ler. Isso me ajudou com a questão da escrita", aponta.

Apoio pedagógico a alunos
Por meio do Programa Permanente de Acessibilidade, a Ulbra oferece apoio pedagógico a alunos, professores e colaboradores com deficiências. Também promove a comunicação intermediada por tradutores e intérpretes, além de auxiliar nos aspectos operacionais das atividades educacionais. O PPA oferece o acompanhamento por intérpretes de Libras para os surdos, material em Braille e ledores para os alunos cegos, além de disponibilizar cópias ampliadas para quem tem baixa visão. "As lei de acesso existem, o problema é que universidades não cumprem a lei", reclama Graceli Lopes.