14 de Outubro de 2020
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Exportações da indústria do RS em queda já por um ano

Setembro foi o 12º recuo mensal nos embarques, afetado pela redução de vendas para a China, principal parceiro do Estado

A indústria gaúcha depara com uma série de dificuldades no comércio exterior. Prejudicado pela pandemia, o setor completou 12 meses de quedas consecutivas nas exportações na comparação com igual período do ano anterior. Setembro, com a marca de US$ 827,8 milhões, baixa de 25,4%, representou o 12º recuo.

Os números foram divulgados ontem pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). Conforme a entidade, houve baixas em 17 dos 23 setores pesquisados.

Em setembro, a queda nos embarques para a China levou o resultado geral para o vermelho. No período, as vendas das fábricas para o país asiático desabaram 63,4%. Segundo a Fiergs, os chineses não realizaram importações de tabaco e diminuíram em 36% as compras de produtos químicos.

Os embarques para Argentina e EUA, por outro lado, voltaram a subir no mês passado. As altas foram de 5,4% e 8,2%, respectivamente.

"Nosso principal comprador (China) reduziu em mais de 60% as importações de produtos gaúchos, o que provocou forte impacto no resultado do mês, mesmo que Estados Unidos e Argentina tenham começado a mostrar alguma recuperação após meses de quedas", afirma, em nota, o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry.

Entre os setores, o de tabaco liderou as perdas, com tombo de 61,1% no total de vendas. Veículos automotores e químicos vieram na sequência, registrando quedas de 40,8% e 28%. No sentido contrário, o segmento de produtos de metal se destacou pelo avanço de 38,5%.

Com isso, as exportações industriais do Estado atingiram a marca de US$ 7,5 bilhões no acumulado de 2020. O resultado significa retração de 21,2% frente ao intervalo de janeiro a setembro de 2019.

Professor da Unisinos, Marcos Lélis atribui a sucessão de quedas a um conjunto de fatores. Antes da pandemia, dificuldades em parceiros comerciais da América do Sul já impactavam os negócios, lembra. A Argentina, principal mercado na região, enfrenta crise nos últimos anos. A chegada do coronavírus serviu para agravar a situação.

Na visão de Lélis, a redução nos embarques à China, em setembro, pode estar relacionada à formação de estoques na pandemia.

- No ano passado, já havia problemas em parceiros da América do Sul, incluindo a Argentina. Agora, a China está segurando mais as compras - frisa.

Em meio à pandemia, as compras da indústria também ficaram menores. Em setembro, as importações chegaram a US$ 696,2 milhões, recuo de 25,8% em relação ao ano passado, sinaliza a Fiergs. No acumulado de 2020, as compras atingiram US$ 5,3 bilhões, queda de 28,3% em relação ao mesmo período de 2019.

Nos últimos nove meses, com exceção de combustíveis e lubrificantes (2,1%), as demais grandes categorias econômicas apresentaram reduções significativas. A maior foi verificada em bens intermediários, de 35,1%.

Professor da Escola de Negócios da PUCRS, Gustavo Inácio de Moraes avalia que as recentes variações do câmbio reduzem a previsibilidade na hora de fechar negócios. Essa incerteza sobre o comportamento da moeda impacta tanto as vendas quanto as compras no mercado internacional, diz o economista.

- Quando há indefinições sobre o câmbio, exportadores e importadores tendem a esperar mais até fechar novos contratos. Há uma incerteza - pontua.


Retomada cheia de obstáculos

O ensaio de retomada da economia global traz algum alívio para a indústria gaúcha. Mesmo assim, o horizonte para as fábricas no comércio exterior segue repleto de dificuldades, ponderam analistas. O temor de novas ondas de contaminação por coronavírus é um dos focos de atenção. Regiões como a Europa voltaram a apresentar avanço nos casos de covid-19.

- A reorganização do comércio exterior deve levar mais seis meses pelo menos. As economias reabrem, mas existe um espaço até que retomem o nível de atividade - observa o economista Marcos Lélis, professor da Unisinos.

- Países da América do Sul, como a Argentina, começam só agora a reabertura - acrescenta.

O economista Gustavo Inácio de Moraes também vê obstáculos para as exportações das fábricas, mesmo com a tentativa de reação dos negócios de diversos países.

- Temos um cenário ainda complicado para a indústria. Estamos vivendo mudanças no perfil do setor, alterações na produção. Já no agronegócio, por exemplo, é esperada melhora significativa em 2021, depois da seca vista em 2020 - menciona o professor da Escola de Negócios da PUCRS.