07/11/2019 Zero Hora Em dia Pg. 27 O lucro é feminino Líder de Impacto Social no Tecnopuc e diretora técnica da Anprotec | gabi.cardozoferreira@gmail.com --- O relatório 2019 da CS Gender 3000 analisa a relação entre diversidade de gênero e desempenho nas empresas. A pesquisa, realizada desde 2014 pelo Credit Suisse Research Institute, fornece um panorama sobre o tema a partir da realidade de mais de 3 mil empresas em 56 países. Os dados mostram que a participação de mulheres nos conselhos administrativos de empresas em nível global chegou a 20,6% em 2019, um ponto positivo para a governança. Além disso, a proporção de mulheres em cargos de gestão aumentou de 14% para 17% desde 2016. Regionalmente, a América do Norte (21%) e a Ásia (19%) possuem maior diversidade de gênero na gestão do que a Europa (17%). Considerando a política de cotas na governança que existe em muitos países europeus, esse resultado surpreende. A possível explicação do estudo é que essas regiões comprovaram na prática as vantagens da diversidade de gênero e, por isso, o percentual de mulheres na administração aumentou de forma orgânica. No Brasil, como na América Latina, não se verifica essa tendência de evolução e a realidade é ainda pior: a participação das mulheres não ultrapassa os 8% nos conselhos de administração e chega a 12% na gestão em geral. Mas a edição 2019 do relatório traz informações adicionais interessantes, como a participação das mulheres na gerência sênior, e analisa sua relação com a lucratividade das empresas. No caso dos cargos executivos mais altos, a evolução feminina é limitada em todo o mundo, e elas ocupam apenas 5% dos cargos de CEOs (gestores) e menos de 15% são CFOs (gestores de finanças). Ou seja, as mulheres permanecem afastadas da tomada de decisões importantes, e isso parece não ser muito inteligente. A pesquisa analisou a relação entre diversidade de gênero e desempenho e descobriu que empresas com equipes de gestão com maior participação feminina tiveram um resultado 4% superior, se analisado preço das ações, e também um Ebitda superior. Os pesquisadores alertam que, ainda, não é possível estabelecer uma relação causal. Não se sabe se é a maior diversidade que leva a um modelo de negócios de qualidade superior (e consequentemente maiores resultados) ou se um modelo de negócios de qualidade superior é que leva a uma maior diversidade. Mas, se eles estão associados, quem se importa com o que vem primeiro? Gabriela Ferreira escreve às quintas-feiras, a cada 15 dias. Amanhã: Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS. GABRIELA FERREIRA