07/11/2019 Portal Uol | uol.com.br Geral Acredite: dá para ser competitivo e cooperativo ao mesmo tempo Ter de viver em uma sociedade competitiva é o desafio de todos nós. Mas até que ponto buscar ser sempre o melhor e ocupar uma posição de destaque é saudável? Uma competitividade exacerbada pode elevar os níveis de estresse e provocar uma frustração muito mais dolorosa quando as coisas não saem como o esperado. Portanto, é importante adaptar-se ao sistema, mas sempre em busca de um equilíbrio. Para Paulo Henrique Azevedo, doutorando em ciências da saúde e coordenador do Laboratório de Pesquisa Sobre Gestão do Esporte da UnB (Universidade Federal de Brasília), desde a infância, deveria ser ensinado a importância do trabalho em equipe. "A criança deveria aprender que a competição não dispensa a cooperação. Para não chegar na fase adulta pensando que competir é vencer e excluir", afirma. Relacionadas Derrotas fazem parte do processo de evolução e aprendizado Mentir para o próprio terapeuta, será que tem mal nisso? A importância de se ter amigos e como mantê-los sempre perto de nós Competição: versão atual Vivemos em uma sociedade capitalista que tem como base para o movimento da economia o consumo de produtos, serviços, ideias e pensamentos e modelos de sucesso. E isso vai gerando padrões de comparação, ou seja, quem se destaca mais em determinadas situações. "E a competição acaba definindo um jeito de a gente reconhecer e certificar as pessoas, no entanto, nem sempre as pessoas realmente são o que conseguem apresentar no contexto social", alerta Clarissa Socal Cervo, doutora em Psicologia pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e professora adjunta do Instituto de Psicologia da UFF (Universidade Federal Fluminense). O problema é que essa busca em ser sempre melhor em comparação ao outro tende a gerar, em longo prazo, processos de adoecimentos psicológicos e físicos. Ou seja, ficar refém dessa competitividade acaba provocando um grau de insatisfação recorrente, pois há sempre uma meta a ser batida. Rever padrão atual é essencial para formar uma sociedade colaborativa em que todos podem conquistar resultados Imagem: iStock Competição: versão ideal "A competição a partir da base da cooperação é mais longitudinal e mais salutar, pois estimula o aperfeiçoamento da potencialidade", define Cervo. Portanto, rever esse padrão atual é essencial para formar uma sociedade colaborativa em que todos podem conquistar resultados e atingir objetivos. Afinal, a cooperação é um elemento tão natural quanto a competitividade e não estão em polos distintos. "É importante superar a ideia de que cooperação e competição são excludentes, pois eles são inevitáveis um para o outro", diz o psicólogo Lucas Rosito, especialista em psicologia do esporte e cognitivo comportamental e professor na PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). Portanto, superdimensionar o competir em detrimento do cooperar é uma falha. Mas, segundo Rosito, ainda estamos aprendendo a manejar isso e caminhando para uma evolução. Essa competição já foi muito mais agressiva e violenta em tempos remotos e hoje com o esporte já fica mais fácil -e natural- considerar a importância dessa associação, pois o correto é que prevaleça o fortalecimento de diferentes indivíduos e organizações sabendo que todos têm um espaço e todos os talentos são importantes. É fundamental não escalonar as pessoas Uma sociedade apenas competitiva rotula quem ficou em primeiro ou último lugar. Já uma rede social cooperativa ensina o indivíduo a lidar e desenvolver os seus potenciais. "Posso substituir a necessidade em provar o meu valor pela oportunidade em reconhecer meu talento e aplicá-lo onde é oportuno", comenta Cervo. E em todo o processo sempre será necessário a colaboração, portanto, ela está presente e só precisa ganhar mais visibilidade. Em uma equipe, por exemplo, podem ter pessoas com espírito mais competitivo e outros mais colaborativos com o mesmo grau de importância. De acordo com Rosito, a competição é uma porção da nossa natureza independente de seu grau aparente, sendo que o temperamento de cada indivíduo pode interferir nisso. "Cada pessoa pode ter um traço ou outro mais presente, sendo que os dois são necessários para a convivência de um grupo", define Rosito. Já Cervo acredita que a competitividade é um comportamento aprendido pelos arranjos sociais em que se está inserido. Na verdade, a liderança pode estar mais presente em algum tipo de personalidade, impulsionando essa competição, mas isso não pode sugerir que ser colaborativo é algo menor. Está evidente que os dois devem caminhar paralelamente para uma sociedade mais saudável. Podcasts do UOL Ouça o podcast Maratona, em que especialistas e corredores falam sobre corrida. Os podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas de áudio.