25/03/2020 GZH | gauchazh.clicrbs.com.br Geral Falta da máscara N95 gera protestos em Porto Alegre e divide opiniões de profissionais da saúde Médicos fazem alerta para o uso racional do equipamento A máscara N95 é a mais procurada pelos profissionais, mas uso indiscriminado pode gerar escassez, segundo os médicosRicardo Wolffenbüttel / Agencia RBSForam mais de 500 reclamações de profissionais da saúde em menos de uma semana, a maior parte delas por falta de equipamento de proteção individual (EPI) adequado. É o número contabilizado pelo Sindisaúde-RS, o Sindicato dos Profissionais de Enfermagem, Técnicos, Duchistas, Massagistas e Empregados em Hospitais e Casas de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul.  Desde quinta-feira (19) o sindicato tem acolhido demandas da categoria. A mais recorrente é  em relação à carência de máscaras do modelo N95, considerada mais eficiente na proteção ao coronavírus. Com filtro mais potente que a máscara cirúrgica, a N95 tem um processo de fabricação mais custoso, sendo mais cara e mais rara no mercado. As reclamações têm motivado protestos do sindicato, realizados em frente ao Hospital Mãe de Deus, na quinta-feira (19), e na Santa Casa, na segunda-feira (23). Segundo a entidade, os locais com maiores concentrações de denúncias são o Instituo de Cardiologia de Porto Alegre, o Hospital Viamão, o Hospital São Lucas da PUCRS e a Santa Casa. Com filtro mais potente que a máscara cirúrgica, a N95 tem um processo de fabricação mais custoso, sendo mais cara e mais rara no mercado. - É essencial ter equipamentos de proteção para os profissionais que estão expostos. A máscara N95 precisa ser ampliada para todos os trabalhadores que atuam com pacientes que podem estar infectados - afirma o presidente do Sindisaúde-RS, Julio Jesien. A ampliação do uso da N95, no entanto, é questionada por médicos de diferentes instituições. Para epidemiologista Ricardo Kuchenbecker, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a máscara cirúrgica é suficiente para grande parte das rotinas relacionadas à covid-19.  - No dia a dia, no contato com o público, no atendimento de pacientes que não envolvam procedimentos mais invasivos, como o manejo da via aérea, como uma entubação, por exemplo, a máscara cirúrgica é absolutamente suficiente - avalia Kuchenbecker. Segundo os médicos, os profissionais devem usar a N95 apenas no manuseio de vias aéreas de pacientes, em procedimentos como aspiração de nasofaringe, coleta de material respiratório, entubação traqueal, entre outras. O uso indiscriminado dessa máscara pode gerar carência do material. - Infelizmente o uso da N95 está sendo sem critério por profissionais de todas as áreas do hospital, bem como por pacientes ambulatoriais sem sintomas respiratórios e sem indicação médica. O uso de máscaras  por pessoas não habituadas aumenta o risco de contaminação indireta, pois levam as mãos à frente da máscara, colocam e retiram do rosto várias vezes ao dia - diz André Luiz Machado da Silva, infectologista hospital Nossa Senhora da Conceição. Já Julio Jesien aponta que as afirmações dos médicos seriam motivada por corporativismo: - Infelizmente médicos representam em inúmeras vezes interesses de empregadores. Por outro lado, se eles disserem que essa máscara deve ser usada por todos profissionais da equipe, correm o risco de faltar pra eles. Na verdade, ainda existe muito corporativismo em determinadas categorias. Para Ricardo Ariel Zimerman, vice-presidente da Associação Gaúcha de Infectologistas, parte da confusão em relação ao uso na N95 está relacionada com duas normas em vigência com relação à covid-19. Segundo a Centers for Disease Control and Prevention (CDC), órgão que serve como referência para grande parte das políticas de saúde americanas, a N95 é recomendada para todos os trabalhadores da saúde nesse momento de pandemia. Já Organização Mundial de Saúde (OMS), que norteia a maior parte dos hospitais brasileiros, a N95 fica reservada para manobras envolvendo as vias aéreas dos pacientes.  - A impressão que dá é de que a OMS tem uma visão mais global, olhando para as diferentes regiões do mundo com suas características variadas de recursos, ora melhores, ora piores. Então, em geral, as recomendações da OMS são mais aplicáveis em larga escala. Já o CDC observa os EUA e tende a ser mais agressivo nas suas recomendações - avalia Zimmermman.   - Se formos fazer um uso mais racional dos insumos, vamos deixar a N95 para o colega que está entubando, que está fazendo a broncoscopia, para quem está na emergência reanimando paciente... Ou seja, para quem está envolvido em situações que podem gerar aerossóis - completa o médico. Com o avanço da pandemia, os hospitais americanas já começaram a sofrer dificuldades em repor os estoques de N95. Como medida para conter a escassez, até mesmo o CDC passou orientar que a máscara cirúrgica pode ser uma alternativa para os profissionais da saúde diante de situações não geradoras de aerossóis - embora somente em situações de escassez iminente de N95. O que dizem os hospitaisEm nota, a Fundação Universitária de Cardiologia, mantenedora dos hospitais Instituto de Cardiologia de Porto Alegre e Hospital de Viamão, afirmou "que, no momento, conta com EPIs suficientes e adequados às normas do Ministério da Saúde para a proteção de suas equipes de atendimento". A instituição também esclareceu que segue orientações da OMS e "também trabalha no sentido de evitar a escassez futura de EPIs em função da limitação de recursos do mercado para o fornecimento destes produtos". A assessoria do Hospital São Lucas da PUCRS  também afirmou que conta com número suficiente de máscara e que "orienta os colaboradores quanto ao uso consciente e responsável, seguindo todas as normas de segurança e critérios clínicos adequados para cada um dos EPIs". Em comunicado, a Santa Casa se limitou a divulgar que "os estoques de suprimentos, incluindo os EPIs, se mantêm nos padrões normais".