07/04/2017 Correio do Povo Geral Pg. 19 Depressão afeta 350 milhões no mundo A estimativa é da Organização Mundial da Saúde. No Brasil, 11 milhões podem sofrer como transtorno A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a depressão como tema do Dia Mundial da Saúde de 2017, comemorado hoje. Com o lema “Let’s talk” (“Vamos conversar”, em português), a campanha alerta para a importância de debater o assunto. A OMS estima que 350 milhões de pessoas sofram deste transtorno no mundo. Conforme o médico psiquiatra e coordenador do Centro de Promoção à Vida e Prevenção do Suicídio do Hospital Mãe de Deus, Ricardo Nogueira, cerca de 11 milhões de pessoas sofrem de depressão no Brasil. “Acredito que a OMS esteja chamando a atenção principalmente para o nosso país. Pela primeira vez na história, lideramos o ranking da depressão na América Latina”, expôs o médico psiquiatra. De acordo com Nogueira, no ranking mundial o Brasil está em 5º lugar. “Este é um transtorno que causa a maior incapacidade no ser humano. A pessoa fica incapaz de trabalhar e estudar, por exemplo”. Nesta mesma linha, o psicólogo Liur Kunzler ressalta que a pessoa depressiva perde muito da sua força e da sua vontade para buscar atividades prazerosas e acaba se isolando. Segundo ele, pelo menos 1/3 da população passou ou irá passar por um episódio depressivo ao longo da vida. “É muito importante falarmos sobre a depressão e os transtornos mentais em geral, para tirar o preconceito que existe”, disse o psicólogo. Kunzler afirma ainda que, de acordo com a terapia cognitiva comportamental — focada no problema atual do paciente —, a depressão se manifesta por meio de um tripé. “Quando as pessoas têm uma visão negativa de si mesmas, do futuro e das outras pessoas. Quando temos esta tríade, ou a pessoa está deprimida ou ela está em um processo de entrar em depressão”, destaca. O ponto de alerta é quando a tristeza começa a atrapalhar a vida da pessoa. Esse pode ser um sinal de início do processo. “É muito importante tirar o estigma do transtorno mental, como se a pessoa fosse culpada por estar se sentindo dessa maneira. O que estão passando tem nome, diagnóstico e não é algo que elas estejam fazendo de errado e, principalmente, tem como melhorar”, afirmou Kunzler. Já o psiquiatra Ricardo Nogueira destaca que é muito importante a observação dos familiares em relação aos adolescentes. “A faixa etária está cada vez menor. É importante ficar atento aos seus hábitos, às companhias e conteúdos que acessam na Internet”, alerta ele. CAUSAS. Nogueira aponta que a depressão está diretamente relacionada a suicídios. “A principal causa de morte no Brasil de adolescentes do sexo feminino é o suicídio, muito por conta da depressão”, afirma. Segundo ele, de 2008 a 2013, houve um aumento de 44,4% nas tentativas de suicídio no Rio Grande do Sul entre adolescentes de 14 a 19 anos, por intoxicação medicamentosa. Nos últimos anos (entre 2013 e 2016), os números aumentaram entre pessoas de 10 a 14 anos. “Estes dados deixam de ser preocupantes e passam a ser alarmantes. É fundamental chamarmos atenção para isto”, destaca. Quando a depressão não é diagnosticada e tratada adequadamente, Nogueira diz que os jovens buscam o álcool e as drogas como forma de aliviar os sintomas. “Se for tratado com antidepressivo, o quadro se estabiliza. Quando não há tratamento, o problema fica ainda maior”, observa. Para o psicólogo Liur Kunzler, o ideal seria o que ele chama de “tratamento combinado”. “Utilizar o antidepressivo indicado e um acompanhamento psicológico, principalmente das linhas da terapia cognitiva comportamental, que surgiu, justamente, para tratar os transtornos depressivos”, disse. De acordo com o psiquiatra e diretor da clínica Laboratório da Depressão, de Porto Alegre, Nei Nadvorny, a violência e a crise financeira estão entre os fatores externos que vêm influenciando o problema. Professores, policiais e vítimas de assaltos são pacientes cada vez mais comuns. “A depressão ainda é uma doença estigmatizada, o que leva a pessoa a não procurar ajuda, pois pensa que os outros vão acreditar que ela está louca”, explica. Segundo ele, quem já teve uma crise, tem 40% de chance de sofrer a segunda e quem teve a segunda, tem 90% de chance de ter depressão pela terceira vez. “Por isso o acompanhamento médico é tão importante. Poder conversar com a família ou amigos sobre o assunto, além de buscar o apoio profissional é o início da cura”, completa Nadvorny. TRATAMENTOS ■ Sinais da depressão — tristeza profunda associada a dores em qualquer parte do corpo, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa. Ela também provoca extremos de sono e fome. Os quadros variam de intensidade e duração e podem ser classificados em três diferentes graus: leves, moderados e graves. ■ Causas — a doença tem influência genética, mas nem todas as pessoas reagem da mesma forma aos chamados gatilhos — fatores que geram as crises. Traumas na infância, estresse, consumo de drogas lícitas e ilícitas, alguns medicamentos e doenças sistêmicas podem desencadear a depressão. ■ Tratamento — o tratamento “combinado” é o mais indicado pelos especialistas. O acompanhamento psicológico, aliado aos medicamentos indicados por psiquiatras (em geral antidepressivos), ajudam a prevenir crises e também auxiliam na melhoria da qualidade de vida. ATIVIDADES ■ Das 9h às 17h serão realizadas atividades, na Praça da Alfândega, estimulando a prática de hábitos saudáveis. ■ Das 9h às 18h30min, no Mãe de Deus Center, o público receberá dicas de médicos das mais diversas áreas, a respeito dos cuidados necessários com a saúde física e mental. ■ A partir das 9h, entre hoje a amanhã, acontece a XVI Jornada Sul Brasileira de Psiquiatria. O encontro ocorre na avenida Princesa Isabel, 921.