29/03/2017
Zero Hora
Notícias | Pág. 6
Clipado em 29/03/2017 05:03:30
PIB gaúcho cai mais 3,1%, safra promete reação
ECONOMIA DO RS emendou terceiro ano em recessão, acumulando queda de 6,7%

Pelo terceiro ano consecutivo, a economia gaúcha encolheu. O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul caiu 3,1% em 2016, segundo a Fundação de Economia e Estatística (FEE), após quedas de 0,3% e 3,4% em 2014 e 2015. O tombo foi grande, mas um pouco menos doloroso do que no restante do país. No mesmo período, a economia brasileira retraiu 3,6%.

Em 2016, diferentemente de outros anos, todos os setores da economia gaúcha tiveram resultado negativo, inclusive a agricultura. As quedas nas safras de arroz, milho e fumo levaram à retração de 4,5% na agropecuária. Indústria recuou 3,9% e serviços, 2,1%.

Apesar de fechar o ano no negativo, a indústria de transformação (segmento que transforma matéria- prima em produto final ou intermediário para outra indústria) apresentou leve reação na reta final de 2016. Na comparação com o quarto trimestre de 2015, o crescimento foi de 1,1%. O segmento vinha registrando fortes quedas desde 2014. O destaque foi máquinas e equipamentos, com avanço de 19,6% no período, devido principalmente à maior fabricação de tratores agrícolas e máquinas para colheita. Esse comportamento decorre da capitalização do setor agropecuário e das expectativas para safra recorde de 2017.

– Na atual recessão, a indústria teve seu pior momento no segundo semestre de 2015. Agora, o setor de máquinas e equipamentos dá início a uma recuperação. Já para as atividades que dependem da renda interna, o alto desemprego e os rendimentos reais ainda baixos dificultam a retomada – afirma Roberto Rocha, coordenador do Núcleo de Contas Regionais.

OPERAÇÃO CARNE FRACA PODE AFETAR DESEMPENHO

Em recessão por três anos, a economia gaúcha apresenta retração acumulada de 6,7%. O resultado é similar à queda de 6,6% observada nos anos 1990 e 1991. A última vez que a economia do Estado teve desempenho negativo em três anos consecutivos foi entre 1980 e 1982 – acúmulo de 3,8%.

No setor de serviços, a queda de 2,1% em 2016 foi menos intensa que a observada na economia nacional, de 2,7%. A única atividade com desempenho positivo no ano foi a imobiliária, com crescimento de 1,1% no Estado e de 0,2% no Brasil. Entre os diferentes segmentos dos serviços, a maior retração foi observada no comércio e reparação de veículos (-5,3%).

Para o diretor técnico da FEE, Martinho Lazzari, todos os indicadores apontam para desempenho extremamente positivo da agricultura em 2017, o que beneficia direta e indiretamente outros setores.

– Por outro lado, há a preocupação com os embargos ao setor de fabricação de carnes. Isso irá refletir no segundo trimestre deste ano e sua dimensão ainda deverá ser avaliada – destaca Lazzari.

Depois de 10 quedas, um sinal de alívio na indústria

Primeiro segmento a sentir os efeitos da desaceleração da economia, ainda em 2014, a indústria de transformação gaúcha deu os sinais iniciais de recuperação na reta final de 2016. Após 10 trimestres consecutivos de encolhimento, o segmento (que forma o setor indústria ao lado dos subsetores extrativa mineral, construção e eletricidade) cresceu 1,1% em relação ao mesmo período de 2015.

O resultado positivo do grupo transformação no último trimestre não foi suficiente para reverter o desempenho desastroso do setor no ano, tombo de 4,3%. Mas pode sinalizar que o pior da crise já tenha passado. O fundo do poço parece ter ocorrido entre outubro e dezembro de 2015, quando a queda acumulada em quatro trimestres foi de 13,4%, puxada pelas fábricas de máquinas e equipamentos, que tiveram recuo de 26,3% naquele ano.

De lá para cá, o segmento continuou encolhendo, mas em ritmo mais lento. No último trimestre de 2016, voltou ao azul. O destaque foi a fabricação de máquinas e equipamentos, com crescimento de 19,6% no período, devido, principalmente, à maior produção de tratores agrícolas, máquinas para colheita e suas partes e peças.

A previsão da safra recorde este ano é positiva para a decisão pela substituição de equipamentos agrícolas e rodoviários, bastante importante para o desempenho da indústria de transformação como um todo. Depois de dois anos de enxugamento de custos e boa safra, os produtores estariam capitalizados para ir às compras. A redução das taxas de juro seria incentivo extra.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) planta a perspectiva de terminar 2017 com crescimento de 13% nas vendas de máquinas agrícolas no país. Como boa parte das peças é produzida no polo metalmecânico da Serra, a economia gaúcha pode acabar beneficiada.

Conta ainda para o resultado positivo no último trimestre do ano a base de comparação baixa. Como o segmento vinha registrando resultados ruins desde 2014, o efeito matemático contribui para tirar a indústria de transformação do vermelho.

RETRAÇÃO FORTE NOS DEMAIS SEGMENTOS

Apesar de algum respiro positivo ao longo de 2016, os demais grupos da indústria tiveram um ano ruim. O segmento eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana chegou a esboçar reação no segundo trimestre, mas voltou a recuar nos meses seguintes, fechando o ano com queda acumulada de 4,1%.

O grupo construção teve desempenho semelhante. Registrou resultado positivo entre abril e junho, mas depois voltou ao vermelho, fechando o ano com retração de 2,1%. Diferentemente da indústria de transformação, ambos apresentaram resultado ruim no último trimestre do ano.

A indústria extrativa mineral, que só começou a sentir os efeitos da recessão econômica em 2015, três trimestres após o segmento de transformação, enfrenta uma situação mais complicada. Encolheu nos quatro trimestres de 2016, fechando o ano com queda de 7,9%.

Desta vez, nem mesmo a agropecuária conseguiu resistir

Nem o campo conseguiu resistir e impedir a economia gaúcha de encolher pelo terceiro ano consecutivo, no embalo da recessão brasileira. A agropecuária terminou 2016 com queda acumulada de 4,5%.

O que derrubou o setor primário não foi a recessão. Ou, pelo menos, não “apenas”. Quebra de parte da safra foi fator determinante para o resultado negativo, cumprindo a sina do produtor: quando o clima não favorece, as perdas se acumulam. O recuo na colheita de arroz e milho, com a soja, as principais culturas do Estado, acabaram prejudicando o desempenho do setor. A queda de 21,6% no fumo também teve impacto negativo.

Foi o primeiro ano ruim para o campo desde o início da desaceleração da atividade econômica. Duas supersafras de grãos contribuíram para proteger a agricultura da intempérie da crise. Em 2014, quando os primeiros sinais de piora da recessão nacional apareceram no Rio Grande do Sul, fazendo o PIB perder 0,3%, o setor cresceu 0,6%. Em 2015, o bom resultado da colheita levou a avanço de 13,6%, enquanto a economia como um todo despencava 3,4%.

COLHEITA RECORDE TEM EFEITO DISSEMINADO

Em 2017, a expectativa é que a colheita volte a impulsionar os números para cima com a estimativa de uma nova safra recorde de grãos. Projeção do IBGE aponta para uma colheita de 210,7 milhões de toneladas de soja no país, número 14,2% maior que o resultado de 2016 (189,3 milhões). No Rio Grande do Sul, serão 30,8 milhões de toneladas dos principais grãos, estima a Emater, impulsionadas pelo aumento nas áreas plantadas de arroz, milho e soja.

As projeções da instituição apontam para resultado econômico direto de R$ 29 bilhões. O número considera apenas o efeito direto na produção, sem levar em conta reflexos na indústria, no comércio e nos serviços – outros itens que compõem o PIB e cujo resultado deve impulsionar o desempenho da economia gaúcha em 2017.

Se o clima ajudar, e até o momento tem sido favorável, a safra de soja deve ter avanço na produção em um momento que o apetite da China pelo grão mostra ainda mais voracidade – um estímulo extra às exportações, que também entram na conta do PIB.

O cultivo de arroz é outro que deve resultar em bons negócios aos produtores. Após um ano prejudicado pelo excesso de umidade, arrozeiros esperam safra com média de produção bastante semelhante a obtida entre os anos de 2010 e 2015. Estimativa do Instituto Riograndense do Arroz (Irga) é de que, em 2017, sejam colhidos entre 8,2 milhões e 8,4 milhões de toneladas no Estado – resultado bastante próximo da média de 8,3 milhões de toneladas alcançadas na primeira metade desta década.

VARIAÇÃO DA PRODUÇÃO
Como foi o resultado dos principais itens do agronegócio gaúcho
Soja em grão 3,2%
Trigo em grão 82,5%
Milho -15%
Arroz -13,7%

Detalhe ZH

O dado mais relevante da economia gaúcha é calculado pela Fundação de Economia e Estatística (FEE). Cinco pesquisadores trabalham exclusivamente para conhecer o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado e seus municípios. A partir de informações coletadas pelos demais núcleos da fundação e em outras fontes externas, os técnicos constroem os indicadores aplicando metodologia reconhecida por órgãos estrangeiros. Depois de calculado, outros profissionais fazem a checagem e uma terceira equipe trabalha na divulgação. Com a extinção da FEE, o cálculo do PIB passará a ser responsabilidade da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão.