06/12/2016
Zero Hora
Segundo Caderno | Pág. 3
Clipado em 06/12/2016 02:12:12
LUÍS AUGUSTO FISCHER
As fundações, não a afundação

Lamento o recurso ao trocadilho, mas é o que me ocorre para penetrar na selva do assunto: este texto se soma aos vários pedidos correntes pela NÃO extinção das fundações estaduais de Cultura, Tecnologia e Ciência, propostas pelo pacote do governador.

Está na mão dos deputados estaduais agora o tema, porque Sartori, depois de dois anos completos de governo, nos quais pouco fez, resolveu apresentar sua alternativa para a crise do estado: a extinção da TVE, da FM Cultura, da FEE, da Fundação Zoobotânica, da Fepagro e outras, como condição sine qua non para tirar o Estado do atoleiro.

Muita gente mais competente que eu mostrou que a poupança é muito pequena, algo como 0,4% do orçamento. Na mão oposta, uma inteligente voz liberal do Estado lembrou que na crise todas as economias são relevantes, em qualquer escala; eu gostaria de concordar, mas não posso. Sem ir mais longe, porque não temos visto o mesmo empenho do governo do Estado em economizar noutros gastos, como por exemplo a publicidade do governo, que serve para quase nada relevante.

E, a rigor, essa suposta economia não é verificável se a conta for menos acanhada. Por favor, senhores deputados, não aceitem como limite último essa conta trivial de soma e diminuição elementares, porque Cultura e Ciência valem muito mais do aquilo que se paga por elas.

Extinguindo a FEE, por exemplo, o governo do Estado, o parlamento, as prefeituras e entidades de classe comprarão pesquisa de PIB, emprego e renda de quem? E com que dinheiro? Sem a FZB, como se fará a guarda dos materiais do Museu de História Natural e de todo o imenso repertório vegetal pelo qual ela zela? Sem a TVE e a FM Cultura, onde é que as carreiras de cantores, músicos, escritores, artistas visuais – de todos os cantos do Estado – vão ser divulgadas, processadas e ganhar o ouvido e o olho do público, formando essa sutil corrente de inteligência e sensibilidade que é a cultura?

Caros deputados: não aceitem essa economia de araque que é na verdade uma automutilação, uma renegação de tarefas fortes do Estado (não deste ou daquele governo), mediante essas fundações, que já provaram sua relevância e ainda vão nos ajudar muito, se vocês agirem certo.