21/05/2014
O Globo
Brasil | Pág. 7
Clipado em 21/05/2014 06:10:41
Pf protegeu ex-marido de dilma de ameaça de sequestro
Informação foi passada por presidiário iraniano que pleiteia indulto ao governo brasileiro

Alarme falso

Na sexta-feira 2 de maio, o advogado Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff, comprava flores a quatro quarteirões de sua casa, no bairro Assunção, em Porto Alegre, quando foi surpreendido por um telefonema da ex-mulher. Nervosa, a presidente perguntou onde ele estava e pediu que voltasse imediatamente para casa e de lá não saísse. No caminho de pouco mais de cinco minutos, Araújo, que é pai da filha de Dilma, Paula, recebeu ainda no carro os telefonemas do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) e do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello. Os dois determinavam o mesmo que a presidente, com um complemento: ele só deveria abrir a porta para um grupo da Polícia Federal que já estava a caminho.

Agentes à paisana

Quando chegou à casa, o grupo de agentes, entre eles o superintendente da PF no Rio Grande do Sul, Sandro Caron, informou a Araújo que ele passaria a ser monitorado 24 horas por dia porque corria risco de ser sequestrado por uma facção criminosa de São Paulo. O esquema de segurança manteve ao menos cinco policiais federais dentro da casa do advogado ao longo de uma semana. Parte deles, vestia-se à paisana, com calça jeans, camisa polo preta e óculos escuros, e outros usavam uniformes da corporação. O grupo mantinha-se sempre fortemente armado.

Neste período, Araújo não se privou de sair de casa, mas alterou um pouco a rotina. Dia e noite os policiais o acompanharam em trajetos de carro, além de vigiarem as áreas interna e externa da casa. Araújo continuou indo a seu escritório de advocacia para atender aos clientes e à Santa Casa de Misericórdia, onde faz regularmente fisioterapia por conta de um enfisema pulmonar. No entanto, um amigo de Araújo relata que em uma dessas idas ao hospital ele decidiu suspender o tratamento, temendo que algo acontecesse aos outros pacientes.

O advogado também reduziu as visitas de amigos, almoços, jantares e reuniões políticas em sua casa, até que a segurança fosse relaxada pela PF. Um amigo do advogado conta que ele não se abalou muito com o assunto e que comentava o tempo todo que nada aconteceria. Respeitava, no entanto, o pedido da ex-mulher, que havia determinado que ele aceitasse a segurança e obedecesse às orientações dos federais.

A casa, localizada na Avenida Copacabana, foi considerada bastante vulnerável pela polícia. As grades são baixas, o lugar é ermo e os fundos da propriedade se encontram com o rio Guaíba, numa área próxima a um clube que estaciona barcos e lanchas. Ou seja, se houvesse um ataque, poderia ser tanto pela frente da residência quanto pelo rio.

A casa em que Araújo ficou sob segurança da PF é a mesma em que Dilma morou por mais de 20 anos, desde que se mudou para Porto Alegre, na década de 70, primeiro com os pais de Araújo e, depois com ele, a filha Paula e o filho mais velho de Araújo, Leandro, do primeiro casamento do advogado. Da casa, é possível avistar o presídio da Ilha das Pedras Brancas, onde o advogado ficou preso durante a ditadura.

A denúncia de um possível sequestro partiu de Farhad Marvizi, um iraniano que cumpre pena por tráfico de drogas no Presídio de Mossoró (RN). Ele pede há cerca de dois anos indulto ao governo brasileiro e, como "gesto de boa vontade", como define um delegado da Polícia Federal, passa informações de dentro do presídio para tentar ganhar algum benefício.

O último desses gestos foi avisar ao Departamento Penitenciário Nacional que uma organização criminosa preparava um plano para sequestrar Araújo. Mesmo sem que o iraniano apresentasse provas, a informação, repassada ao Ministério da Justiça, bastou para impactar o governo e deixar a presidente Dilma estressadíssima.

Vigilância estendida

Quando a presidente foi avisada sobre o risco de sequestro, pediu prioridade máxima à Polícia Federal para investigar o caso. A direção geral da PF confirmou a operação e informou que o departamento de inteligência foi acionado e uma equipe de agentes enviada à casa do advogado para "garantir sua integridade".

Segundo a PF, foram feitas todas as investigações e se concluiu que não havia plano em andamento. A polícia diz que o informante não tem credibilidade e que a maioria das informações que passou de dentro dos presídios de Catandúvas (PR) e Mossoró não evoluíram. Mas a área de inteligência tratou da informação como "risco real de sequestro".

Por precaução e pelo fato ter ocorrido em uma sexta-feira, explicou um delegado da PF que participou da operação, a decisão foi de manter Araújo em segurança máxima por sete dias - apesar de em casos semelhantes o prazo ser, em média, de 48 horas.

- Levantamos a segurança na sexta-feira seguinte. Como se tratava de um familiar da presidente, tivemos ainda mais cautela. Imagina a responsabilidade de determinar o fim da segurança máxima e acontecer o sequestro? - comentou o delegado.