06/11/2017
Zero Hora
Notícias | Pág. 8
Clipado em 06/11/2017 02:11:06
Retomada do emprego avança em ritmo lento

SALDO DE VAGAS formais na Grande Porto Alegre mostra que perda de postos ainda não foi encerrada, mas movimento de recuperação já é nítido

Com o maior peso na economia do Estado, a região metropolitana de Porto Alegre ainda amarga saldo negativo no emprego formal tanto no acumulado de 2017 quanto no intervalo de um ano, mas o movimento de recuperação já é nítido.

No período de 12 meses até setembro, a Capital e os municípios do entorno registraram corte de 15,4 mil postos com carteira assinada, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Em março de 2016, com o país paralisado às vésperas do impeachment da presidente Dilma Rousseff, a diferença entre demissões e admissões no mesmo espaço de tempo alcançou o auge desde o início da recessão e chegou a 53,8 mil. Ou seja, o corte de vagas caiu 70% em comparação ao momento mais crítico. A última vez que a Região Metropolitana teve saldo positivo no período de 12 meses foi em janeiro de 2015.

O economista Guilherme Stein, da Fundação de Economia e Estatística (FEE), lembra que o emprego é uma variável que costuma reagir depois do início de um ciclo de aceleração ou desaceleração da atividade. O mercado de trabalho, observa, começou a piorar depois de a recessão já estar instalada no país. Agora, com a crise ficando lentamente para trás, inicia o refluxo.

- A trajetória da recuperação do emprego é o reflexo da retomada da economia, extremamente tímida - diz Stein.

Os dados do Caged mostram ainda que os resultados tanto da Região Metropolitana quanto do Estado são puxados para baixo devido ao mau desempenho de Porto Alegre na criação de empregos. No ano, a Capital tem saldo negativo de 7 mil vagas. O pior desempenho é no setor de serviços, mas comércio e indústria de transformação também ajudam a pressionar o mercado de trabalho. Apenas a construção civil tem resultado positivo.

- A retomada está muito lenta. Não dá para dizer que está bom. Apenas está menos pior - define o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Porto Alegre (Sticc), Gelson Santana.

Nos nove meses do ano, o Rio Grande do Sul tem saldo negativo de 630 postos de trabalho, enquanto no país o resultado é positivo, com 208,8 mil contratações a mais do que desligamentos.

INTERIOR APRESENTA UMA RECUPERAÇÃO MAIS FORTE

De janeiro a setembro de 2017, a Região Metropolitana também segue no vermelho, com a perda de 2,8 mil vagas. Mas, em setembro, isoladamente, o resultado foi positivo em 983 postos, dando mais um indício da recuperação do mercado de trabalho.

Para Stein, não é surpresa o Interior apresentar recuperação mais forte uma vez que a retomada da atividade, tanto no Estado quanto no país, começou com a agricultura. O consumo das famílias, que impacta mais setores como serviços e comércio, base da economia das capitais, voltou para o terreno positivo apenas no segundo trimestre de 2017, após quase dois anos de retração. O economista da FEE observa que a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada na última terça- feira pelo IBGE, revela estagnação da renda, o que indica retomada vagarosa do consumo.

A Pnad também voltou a mostrar que a queda do desemprego tem ocorrido mais pelo aumento de pessoas que partem para o trabalho por conta própria do que por abertura de vagas com carteira assinada.

- Os empresários estão contratando apenas o mínimo indispensável - observa Mauro Rochlin, professor do MBAs da Fundação Getulio Vargas.

Para o especialista, os empregos de mais qualidade vão aparecer somente com a retomada dos investimentos que, por sua vez, dependem de melhor previsibilidade política em relação às eleições de 2018.

Porto Alegre e outras capitais atrasam recuperação do emprego no Brasil

O Brasil soma até setembro a criação de 208 mil postos de trabalho formais, mas o resultado deve ser atribuído aos municípios do interior. Os números do Cadastro Geral de Empregados de Desempregados (Caged) mostram que, nas capitais, o saldo é negativo em 85,6 mil vagas. O mesmo ocorre com as regiões metropolitanas. Nos nove primeiros meses do ano, a diferença entre demissões e admissões chega a 99 mil nas nove áreas levadas em consideração pelo Ministério do Trabalho. Somente os conglomerados urbanos das capitais de São Paulo e Minas Gerais têm geração de vagas.

Apesar de ser o setor de serviços que ainda falta engrenar recuperação na economia, é o comércio que apresenta o pior resultado do emprego nas capitais. Os varejistas eliminaram 48 mil postos com carteira assinada nessas cidades, seguidos pela construção civil (21,7 mil). Os serviços, por sua vez, têm resultado positivo de 8,2 mil empregos, mas graças à influência paulistana, que gerou 29 mil vagas.

Para a economista-chefe da Federação das Associações Comerciais de Bens e Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, a tendência é de que o setor lojista tenha um melhor desempenho nos últimos meses do ano, por fatores sazonais:

- A contratação de temporários tende a melhorar os resultados da geração de empregos no setor de comércio nos meses de setembro, outubro e novembro. Mesmo em anos muito ruins para a geração de emprego, como foram 2015 e 2016, isso aconteceu. Tanto as pesquisas realizadas sobre a intenção de contratação quanto o Caged de setembro apontam nessa direção.

No Rio Grande do Sul, onde as dispensas superaram as contratações até setembro em 630 postos, o balanço seria positivo não fosse o grande peso de Porto Alegre. No Interior, a recuperação ocorre de forma mais acelerada. No acumulado de 2017, chega a 268 o número de municípios com aumento de postos de trabalho formais. Esse contingente soma, ao longo do ano, 21,1 mil vagas criadas. Ano passado, 243 municípios tiveram mais admissões do que demissões no Rio Grande do Sul, mas o resultado líquido do grupo foi de apenas 10,5 mil postos, menos da metade do observado este ano.

Entre os maiores municípios do Estado, o melhor desempenho é o de São Leopoldo, com 1,4 mil postos. Outro exemplo de recuperação vem de Caxias do Sul, cidade que começou a ver o desemprego crescer ainda em 2014. Neste ano, foram 1 mil vagas formais criadas.

A observação dos números do Caged mostra que a diferença está na indústria de transformação e nos serviços, observa Patrícia. Enquanto nas fábricas há criação líquida de 6,9 mil vagas no Interior, na Capital há destruição de 1,3 mil. No fim, o saldo positivo do Estado fica em 5,6 mil.

Nos serviços, o cenário se repete. O segmento gerou até setembro 4,8 mil postos de trabalho formais nos demais municípios, mas em Porto Alegre foram 3,5 mil empregos com carteira perdidos. Para Patrícia, o ritmo de contratações é ligado ao nível de ociosidade de cada setor. A indústria vem contratando mais no país como um todo porque, entre 2014 e 2016, perdeu cerca de 1 milhão de vagas. Comércio e serviços, por outro lado, ainda tiveram resultado positivo em 2014, começaram a demitir em 2015, mas apenas no ano passado superaram a indústria no saldo negativo, apesar da força muito maior de trabalho.

"A trajetória da recuperação do emprego é o reflexo da retomada da economia, extremamente tímida."

GUILHERME STEIN Economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE)

"Os empresários estão contratando apenas o mínimo indispensável"

MAURO ROCHLIN Professor do MBAs da Fundação Getúlio Vargas

"A contratação de temporários tende a melhorar os resultados da geração de empregos no setor de comércio nos meses de setembro, outubro e novembro. Mesmo em anos muito ruins para a geração de emprego, como foram 2015 e 2016, isso aconteceu."

PATRÍCIA PALERMO Economista-chefe da Fecomércio-RS