27/01/2015
Revista Amanhã | amanha.com.br
Geral
Clipado em 27/01/2015 19:10:18
Crise na Petrobras afunda sonho de Dilma de transformar Brasil em titã naval, diz FT

Por Infomoney

A crise que a Petrobras vive e o seu desenrolar nos setores da economia continuam ganhando destaque na imprensa internacional. Em matéria do último final de semana, o jornal britânico Financial Times (FT) destacou que o sonho da presidente Dilma Rousseff em transformar o "Brasil num titã da indústria naval foi por água abaixo" em meio aos problemas que a estatal enfrenta.

"Em 2012, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff visitou o sul do estado do Rio Grande do Sul para visitar um projeto do coração da líder de esquerda - o renascimento da indústria de construção naval do país. No Estaleiro Rio Grande (foto), um dos cinco estaleiros contratados pela Sete Brasil, uma nova empresa de perfuração brasileira criada para produzir 29 navios, ela se dirigiu a 4 mil trabalhadores e falou que no Estado estava vendo o nascimento e crescimento de uma indústria naval", afirma o jornal. Contudo, menos de três anos depois, o plano de Dilma de transformar o país em uma força naval da indústria de petróleo e gás está em dúvida. A expectativa é de que a Petrobras divulgue seus resultados - que não foram auditados pela consultoria PwC - do terceiro trimestre nesta terça-feira (27), com meses de atraso em meio a uma grave crise, ressalta o FT.

E um grupo que está atento a isso é a Sete Brasil. Fundada em 2010 como carro-chefe para o setor de petróleo e gás, dona de contratos de US$ 89 bilhões para construir, arrendar e operar 29 sondas de perfuração, a empresa enfrenta dificuldades financeiras. O FT ressalta ainda a fala de críticos. Eles destacam que, na verdade, a Sete Brasil ajudou a aumentar os custos da estatal - uma vez que era possível obter equipamentos mais baratos no exterior. Os acionistas da Sete incluem a própria Petrobras, dois dos maiores bancos do setor privado cotadas do país, BTG Pactual e Bradesco, e uma série de fundos de pensão e de investimento no Brasil. As companhia contratadas para operar os equipamentos, por sua vez, incluem unidades de alguns dos maiores grupos de construção do Brasil e ainda multinacionais como Seadrill e Odjfell.

Os proprietários dos estaleiros incluem Odebrecht, Queiroz Galvão, UTC e OAS, juntamente com os parceiros estrangeiros, como a japonesa Mitsubishi e a Keppel Fels, de Cingapura. "A Sete Brasil foi um exercício muito inteligente em project finance. Mas na época, ninguém pensou que a Petrobras iria ter problemas financeiros", relata um investidor na reportagem. O FT ressalta ainda que quando a Operação Lava Jato foi deflagrada no início do ano passado, o ex-diretor da Sete Brasil, Pedro Barusco, foi acusado de má conduta quando tinha um cargo na estatal. O executivo fez um acordo de delação premiada em que se compromete a devolver US$ 100 milhões aos cofres públicos.

Em meio ao imbróglio, unidades de muitos dos grandes grupos brasileiros que tinham contratos com a Sete Brasil também foram acusados de irregularidades. Com isso, um dos problemas mais imediatos para a Sete (e a Petrobras) foi a crise financeira encontrada e dificuldades para entregar o que fora prometido. Um empréstimo de US $ 3,1 bilhões foi acordado com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2013, mas o desembolso fora adiado por negociações contratuais prolongadas. Os investidores estão preocupados, pois sem o financiamento de longo prazo mais barato oferecido pelo BNDES, o projeto não terá liquidez suficiente.

A Sete Brasil afirmou que o empréstimo deverá ser finalizado dentro das "próximas semanas", mas não disse nada sobre o possível adiamento do processo. Enquanto isso, rumores apontam que Dilma trabalha pessoalmente para agilizar o empréstimo. O jornal britânico aponta uma saída, mas que não deve ser considerada pela presidente. "Com os problemas da Petrobras piorando, alguns investidores têm sugerido que o governo permita que a Sete obtenha algumas plataformas de perfuração mais baratas no exterior. Tal movimento, no entanto, seria politicamente intragável para Dilma Rousseff. Afinal de contas, ela pretendia criar o legado de uma gigante da construção naval no Brasil - e não mais empregos na Ásia", diz a reportagem.