26/05/2017
Jornal do Comércio
Economia | Pág. 12
Clipado em 26/05/2017 01:05:16
CONSTRUÇÃO CIVIL
Trabalhador da construção na RMPA está mais velho
Dado acende alerta por conta das exigências físicas da profissão

Tradicionalmente visto como um mercado para mão de obra de pouca escolaridade e informal, a construção vem passando por outro processo nesta década. Segundo dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-RMPA), desde pelo menos 2011 o perfil do trabalhador da construção na Grande Porto Alegre está envelhecendo, graças a uma menor entrada de jovens na ocupação e à permanência dos mais velhos por mais tempo na atividade. A constatação é preocupante, segundo os pesquisadores, na medida em que o setor exige capacidades físicas que tendem a se perder com a idade. Entre 2011 e 2016, a parcela de jovens entre 16 e 24 anos de idade no total de ocupados na construção na Região Metropolitana caiu de 15% para 10,9%.

Ao mesmo tempo, os trabalhadores com 60 anos ou mais aumentaram sua participação, de 7,3% para 9,9%. Mais da metade, 54,1%, está acima dos 40 anos de idade. Parte do movimento é reflexo natural da transição demográfica pela qual passa a população da região, que está ficando mais velha. Há, em comum com os outros setores, também a postergação da entrada dos jovens no mercado de trabalho – a parcela de jovens que só estudam passou de 17% no fim dos anos 1990 para 30% no ano passado. “O aumento dos idosos na construção acende uma luz vermelha em relação a políticas públicas pela natureza da atividade”, comenta Virginia Donoso, economista do Dieese, uma das entidades que produz a PED-RMPA.

Mesmo com a mudança estrutural da população, porém, outros dados da pesquisa ajudam a explicar a permanência dos idosos na profissão, ainda que o avançar da idade comprometa as habilidades necessárias. “Por ser um trabalhador com baixa escolaridade, não consegue migrar para outra atividade. Além disso, como grande parte não contribui para a Previdência, precisam se manter na ativa porque não conseguem se aposentar”, explica Iracema Castelo Branco, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE), outra das instituições que mantém a pesquisa. No ano passado, 44,1% dos ocupados na construção não haviam completado nem o Ensino Fundamental.

O índice vem melhorando (em 2011 eram 52,2%), mas ainda é bastante elevado em relação a outros setores. A situação é ainda mais crítica na construção de edifícios (48,8%) do que nos serviços especializados para construção, categoria que inclui, por exemplo, eletricistas, azulejistas e outros especialistas, onde os trabalhadores sem o Ensino Fundamental são 31,6%. Em relação à Previdência, apenas 56,8% dos ocupados na construção contribuem com o sistema, parcela semelhante aos 56,2% encontrados em 2011. A participação, entretanto, ainda fica muito aquém se comparada com a vista no total dos trabalhadores da Região Metropolitana, onde 83,1% dos ocupados contribuem para a Previdência.

Muito disso explicado pela grande participação de autônomos na força de trabalho da construção: eles foram 45,4% em 2016, enquanto representavam apenas 13,7% no total de ocupados da região. Ao todo, a construção empregou 120 mil pessoas em 2016, menor contingente da década (o máximo foram as 128 mil encontradas em 2012). Destas, 95,4% são do sexo masculino, e 69,1% são chefes de família. Por segmentos, 73,5% atuam na construção e incorporação de edifícios; 24,3%, nos serviços especializados; e pouco mais de 2%, em obras de infraestrutura, embora esse último não seja divulgado pela pesquisa por falta de amostra.

OS TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO NA RMPA (2016) (VER IMAGEM)