25/11/2017
O Nacional
Geral | Pág. 10
Clipado em 27/11/2017 09:11:22
RS registra desistência de pelo menos 20 mil produtores
Dados são da Fetag-RS. Na região, concentração de desistência foi menor, mas ainda significativa. Motivo é por baixa no valor do litro do leite e aumento da importação ilimitada do produto do Uruguai

Pelo menos 20 mil produtores de leite desistiram da função desde 2016 no RS. De acordo com dados divulgados pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), o motivo está na baixa do preço do produto: o litro varia entre R$ 0,65 e R$ 1,08 - o que gera prejuízo aos produtores. A questão foi motivo de protesto na sexta-feira (24), em Teutônia e Palmeira das Missões, onde estão localizadas as sedes das empresas Lactalis e Nestlé, respectivamente. Conforme o diretor-geral da Fetag, Pedrinho Signori, o maior motivo para a desistência dos produtores é que, com a queda do preço, não há como pagar os investimentos feitos na cadeira do leite. Segundo ele, estão, literalmente, pagando para trabalhar. “Outra dificuldade que encontramos é em relação a exportação.

A Nestlé é a maior captadora de leite do mundo e a Lactalis a maior do RS. As duas empresas ganham milhões em incentivos fiscais do governo do estado para se instalarem aqui e acabam fazendo um desserviço social”, começou ele. De acordo com Signori, estas empresas importam leite do Uruguai sem cota, o que beneficia a queda do preço dos produtores brasileiros. “Isso não prejudica só o produtor, mas também as pessoas que dependem da agroindústria. A produção de leite não é simples: não tem como encerrar e voltar depois, sem planejamento”, completou o diretor-geral da Fetag. Outra reclamação é pela demora no pagamento do leite.

“Se entregamos o leite hoje, vamos receber daqui 45 dias e sem saber o valor correto. Temos que saber quanto o produtor vai receber para que também possamos nos programar. Buscamos por um modelo de contrato e pagamento até tal dia”, pontuou. Uma reunião foi marcada para o dia 29, em Porto Alegre, entre representantes sindicais e das empresas, para buscar um acordo.

Panorama regional
Na região de Passo Fundo, no entanto, o índice de desistência não é tão alto. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marau, vinculado a Fetag, Silvio Borghetti, a maioria dos produtores que deixaram a função foram de pequeno porte e aposentados. “A desistência na região foi menor, mas também teve. Estamos em uma região onde a produção de leite é forte, temos produtores profissionalizados. É que é um trabalho pesado, 365 dias, sem parar. Temos outras empresas [além da Nestlé e Lactalis] por aqui, mas a situação de preço baixo é geral”, explicou. Para os produtores, o ideal seria o pagamento de, no mínimo, mais de R$ 1 ao litro.

Um dos principais motivos para a diminuição do preço do leite no estado é a proporção de crescimento da produção, que aumentou 50% em menos de dez anos. Em 2007, eram produzidos cerca de 2,9 bilhões de litros por ano, enquanto 2016 registrou crescimento de 4 bilhões. A questão é se o investimento dos últimos anos valeu a pena. Os agricultores dizem que não: com o aumento da oferta, a demanda acaba ficando desvalorizada. Por isso muitos produtores não conseguiram cobrir os custos da produção e, consequentemente, buscam outras formas de sustento - longe da cadeia leiteira.

Dados no Brasil
No Brasil, o RS figura em segundo lugar na lista dos estados com maior produção leiteira. Fica atrás de Minas Gerais e na frente do Paraná, somente. O resultado foi lançado pela Fundação de Economia e Estatística (FEE).