25/08/2017
Correio do Povo
Correio do Povo Rural | Pág. 2
Clipado em 25/08/2017 03:08:28
Retrato da evolução econômica
De exposição de animais em 1972 para um complexo que exibe o que há de melhor no campo,na indústria e nos serviços voltados às atividades rurais nos dias atuais,a Expointer resume,acada edição,todas as transformações da agropecuária e suas conexões com os

Ao longo de suas edições, a Expointer mostrou ser um autêntico retrato da evolução das atividades do campo, de como elas se conectam com os demais ramos, puxam indústrias, como a de máquinas agrícolas, e demandam serviços, como o de transportes, sendo sempre fundamentais para a economia do Rio Grande do Sul. Nos primeiros tempos, a feira era voltada à exposição de animais, refletindo a força da pecuária na época.

A exibição dos melhores exemplares do rebanho segue como grande atração. Mas não está mais sozinha e hoje divide as quadras, pavilhões e corredores do Parque Assis Brasil com estandes da indústria e serviços que cresceram voltados ao setor primário.

Isso reflete também a expansão da agricultura, que multiplicou sua produtividade nestas quatro décadas e meia, passando da prática “de subsistência” para a de grande fornecedora de alimentos para o país e o mundo. De acordo com levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 1976 as lavouras do Rio Grande do Sul se estendiam por uma área de 7,6 milhões de hectares.

Hoje, ocupam 8,6 milhões de hectares. Nesse período, empurrada pelo aumento da produtividade, a produção de grãos deu um salto, de 11,5 milhões para 36,4 milhões de toneladas. Por trás deste avanço estão as inovações tecnológicas das máquinas e de insumos e novas técnicas de cultivo, como o plantio direto.

O coordenador do Grupo de Estudos do Agronegócio da Fundação de Economia e Estatística (FEE), economista Rodrigo Feix, diz que, nos anos 1970, a agricultura começou a se constituir como uma demandante de mais insumos e de equipamentos. Isso foi o início da consolidação de um pacote tecnológico que chegou à maturidade nos anos 1990 e hoje é utilizado em larga escala.

O doutor em Agronegócios e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Edson Talamini, destaca que o Brasil precisou vencer, nos anos 1970 e 1980, carências como a infraestrutura de escoamento e armazenagem da produção. E, com o tempo, passou a se destacar pela cultura empreendedora de produtores e empresários.

Para ele, a agricultura evoluiu graças à difusão tecnológica; políticas públicas de custeio, mecanização, escoamento e comercialização; e agregação de valor aos produtos, entre outros fatores.

PECUÁRIA SE TORNOU MAIS EFICIENTE

Apesar de não ter crescido nas mesmas proporções da agricultura, a pecuária também se desenvolveu nas últimas décadas. Segundo o IBGE, o rebanho bovino gaúcho evoluiu de 12,9 milhões de cabeças em 1974 para 13,7 milhões em 2015.

Mesmo tendo sido ampliado, caiu do segundo para o sexto lugar no ranking brasileiro, ficando atrás do Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Pará, estados que se beneficiaram da genética exportada pelo Rio Grande do Sul.

O coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), Júlio Barcellos, diz que o tamanho do rebanho não é um fator preponderante para analisar a evolução do setor. Segundo ele, nos últimos 20 anos a pecuária chegou ao conceito de cadeia produtiva da carne, o que ajudou a melhorar sua eficiência e possibilitou um aumento de 15% a 20% na produção. Em 2016, o Estado abateu 1,9 milhão de cabeças, segundo o IBGE.

“Antigamente, a Expointer servia só para exibir o touro, o cabanheiro. Eles continuam sendo protagonistas, mas hoje em dia existe um conjunto de agentes envolvidos”, observa Barcellos, ao explicar que por trás de um animal premiado há um sistema bancário, uma rede de logística, de recursos humanos, de pesquisa, de tecnologia, de sanidade animal e de melhoramento genético. “Tudo isso permitiu que a carne gaúcha chegasse em nichos de mercado muito importantes”, acrescenta o coordenador do Nespro.

TRÊS SETORES CRESCERAM EM CADEIA

Com a maturidade e o dinamismo da agropecuária, o setor industrial se beneficiou por duas vertentes, observa Rodrigo Feix, da FEE. Primeiro porque a agropecuária é consumidora de insumos e de máquinas e, segundo, porque fornece matériaprima às indústrias de alimentos, de fumo e de biocombustível.

Os números da FEE mostram que nos anos 1970 a agropecuária tinha participação de 23% no Valor Adicionado Bruto (VAB) do Rio Grande do Sul, a indústria 22% e os serviços 54%. Em 2013, o agro participava com 10,1%, a indústria com 24,2% e serviços com 65,7%.

O professor Edson Talamini, da Ufrgs, afirma que a queda na participação da agropecuária não significa que ela vem encolhendo. O que acontece, explica, é que as outras atividades (indústria e serviços) conseguiram justamente se apropriar desta expansão da agricultura para crescer mais. “Esse é o maior marco dessas últimas quatro décadas”, afirma.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier, lembra que no Estado são fabricadas 65% das máquinas agrícolas de todo o País e que o protagonismo deste setor hoje está estampado na Expointer. O dirigente conta que as máquinas sempre estiveram na feira. No entanto, de forma muito tímida até o início dos anos 2000, quando o Estado cedeu uma área para o segmento. “O sindicato investiu naquele terreno, que era alagadiço e subutilizado”, recorda. “Transformamos aquele espaço em um marco para a feira tomar a proporção que tomou”, destaca.