20/07/2016
Correio do Povo
Geral | Pág. 18
Clipado em 20/07/2016 04:07:14
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Atendimento a mulheres com deficiência
Inclusão no boletim de ocorrência do item ‘deficiência’ foi uma das solicitações em evento de capacitação

Ofortalecimento das redes de atendimento para mulheres com deficiência possibilitando que elas, em situação de violência, possam ser atendidas em centros de referência, delegacias de polícia, casas de abrigo e juizados. A reivindicação foi feita pela coordenadora do Grupo Inclusivass, Carolina Santos, que participou da Capacitação sobre a Inclusão de Mulheres com Deficiência nas Políticas de Enfrentamento à Violência Doméstica.

O evento foi realizado na última sexta-feira e no sábado no City Hotel Porto Alegre, no centro da Capital. O encontro discutiu temas como direitos humanos das mulheres, violência doméstica e políticas públicas para a garantia dos direitos das pessoas com deficiência. Segundo Carolina, as mulheres com deficiência querem também incluir no formulário do boletim de ocorrência policial o item “deficiência” e garantir o levantamento de dados sobre a violência contra as mulheres com deficiência nos juizados especializados. Carolina disse que outra reivindicação é a criação e divulgação de um número acessível para mulheres surdas e com dificuldades de fala notificarem os casos de violência, o que poderia potencializar o atendimento do disque 180 e do 0800.5410803 da Rede Lilás. Carolina, que é cadeirante, explicou que o curso capacita mulheres com deficiência nas políticas de enfrentamento à violência doméstica.

“Queremos a qualificação das redes de atendimento à violência doméstica para que estes locais sejam mais acessíveis e tenham atendimento mais humanizado”, frisou. Ela citou o exemplo de como uma mulher surda conseguirá registrar ocorrência de violência doméstica em uma delegacia de polícia. “Nas delegacias não existe um intérprete de Libras, o que dificulta a comunicação.”


RS é o 24º em homicídios

A violência contra a mulher é questão nacional muito grave. As mulheres estão expostas à violência dupla — na rua e no âmbito doméstico — ao contrário dos homens, que estão expostos, na maioria das vezes, apenas à violência no espaço público. A constatação é da economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Clitia Helena Backx Martins, e da mestranda em Políticas Públicas da Ufrgs, Deisi Conteratto. Juntas elas realizaram o estudo “Violência de gênero e rede de proteção às mulheres no RS”, publicado na Carta de Conjuntura da FEE neste mês. Segundo Clitia Helena, existe uma vulnerabilidade das mulheres no âmbito familiar e a violência parte de pessoas conhecidas (parceiros, familiares e amigos).

Com relação à taxa de homicídios, ela disse que o Rio Grande do Sul não está tão “pior” no contexto nacional, mas as taxas são alarmantes. O Estado ocupa o 24˚ lugar, com 3,8 por 100 mil habitantes. O resultado está abaixo da média brasileira. Roraima com 15,3, Espírito Santo com 9,3, Goiás e Alagoas com 8,6 e Acre com 8,3 lideram as estatísticas de mortes contra as mulheres. Quanto às capitais, Porto Alegre situa-se também em 24˚ lugar, e Vitória, Maceió, João Pessoa e Fortaleza têm as piores taxas de homicídio. Deisi afirmou que, mesmo com redes de proteção à mulher e acesso a atendimento especializado às vítimas, seguem acontecendo crimes violentos. A economista citou ainda que o Brasil é considerado um país inseguro para mulheres inclusive com divulgação internacional.