21/10/2012
Zero Hora
Dinheiro | Pág. 8
Clipado em 21/10/2012 07:10:05
A mãe das startups gaúchas
Há 30 anos, sócios viram que valia a pena correr riscos no ainda incerto mercado de tecnologia eletrônica industrial

Muitas vezes, sociedades entre velhos amigos podem se revelar uma armadilha: nem sempre o entendimento pessoal significa afinidade na hora de tocar um novo negócio. Quando essa diretriz é quebrada, no entanto, os resultados costumam ser invejáveis os sócios aproveitam a confiança de longa data para complementar conhecimentos em busca de espaço no mercado. É o caso da Altus Sistemas de Informática.

Quando Ricardo Felizzola e Luiz Gerbase decidiram criar uma empresa para explorar o próspero – mas de dimensões ainda incertas – mercado de tecnologia eletrônica industrial no Brasil, em 1982, há exatos 30 anos, o cenário era arriscadíssimo. A política industrial estava sendo definida, a reserva de mercado era insuficiente para fomentar uma cadeia de fornecimento e multinacionais devoravam o mercado brasileiro sem resistência.

Antigos colegas de Anchieta no colegial e de graduação e mestrado da UFRGS, Felizzola e Gerbase acharam que valia a pena correr o risco. Aproveitaram o conhecimento na universidade para criar a Altus. Depois, com dois sócios, deixaram empregos em empresas fundadas por outros colegas de faculdade e abriram a unidade industrial no bairro Navegantes, zona norte de Porto Alegre.

– Foi uma época em que surgiram muitas companhias no setor, várias não resistiram aos primeiros anos, mas algumas permaneceram e, anos depois, se tornariam referência em eletrônica – lembra Felizzola, citando nomes como Perto, Digicon, Digitel e, claro, a própria Altus.

Destaque nas feiras de ciências na época de escola, Gerbase liderou a parte operacional da Altus: sua tarefa era pensar em design e funcionalidades inovadoras para os produtos. Felizzola, descrito pelo sócio como exímio jogador de basquete no colegial, dedicou-se a encestar contratos comerciais e a buscar parceiros internacionais.

Incursões de Felizzola na Alemanha e em São Paulo serviram para prospectar o que havia de mais moderno em eletrônica industrial, e ser gradativamente incorporado à produção na Altus. A primeira venda, comemorada com estouro de champanha entre os engenheiros da incipiente empresa, foi de um sistema para moldagem de cabo de facas para a antiga Zivi-Hércules.

– Hoje, vendemos controles completos para plataformas do pré-sal e concorremos em mercados internacionais – diz Gerbase.

Grupo negocia com a Apple chips para iPads

A trajetória da Altus teve um parceiro de peso: o BNDES, que em 1992 investiu US$ 1,8 milhão na empresa, obtendo 30% de participação. O recurso foi usado em pesquisa e desenvolvimento e na modernização na gestão da Altus, dando fôlego para competir quando o mercado de informática começou a ser aberto.

O crescimento da Altus motivou Gerbase e Felizzola a empreender em outros segmentos. Em 1997, ergueram em Porto Alegre a Teikon, que começou fornecendo placas eletrônicas para quatro empresas e hoje tem 15 grandes clientes dentro e fora do Brasil. Em 1998, a Teikon recebeu um aporte da CRP Companhia de Participações, e, dois anos depois, do BNDES. Hoje, fatura R$ 120 milhões.

A mais recente sacada da dupla de engenheiros é a HT Micron. Por meio da holding Parit, criada em 2010 para gerir as empresas do grupo, e em parceria com a sul-coreana Hana Micron, os sócios erguem no Parque Tecnológico São Leopoldo (Tecnosinos) uma unidade de encapsulamento de chips. Em março do próximo ano, a empresa alcançará produção mensal de 400 mil unidades, o equivalente a 10% do mercado brasileiro. As metas são ambiciosas: a empresa já negocia com a Apple o fornecimento de três componentes para os iPads montados pela Foxconn em São Paulo.

– Para receber incentivos do governo brasileiro, a Apple vai precisar aumentar o uso de conteúdo local, e teremos o que eles precisam – explica Felizzola.

Controladora de empresas que negociam com a companhia mais valiosa do mundo ou são fornecedoras da Petrobras, o Grupo Parit já pensa em abrir capital. Em cinco anos, quando atingir faturamento projetado de R$ 1 bilhão, o fruto da parceria entre Gerbase e Felizzola deverá buscar investidores no mercado de capitais brasileiro ou internacional.


Perfil

Grupo parit Holding de três empresas altus

Fabrica sistemas integrados para automação e controle de processos industriais

Previsão de R$ 120 milhões de faturamento em 2012

360 funcionários

Unidades no Tecnosinos, em São Leopoldo, e Sapucaia do Sul teikon

Produz placas e painéis de controle para indústrias

Previsão de R$ 120 milhões de faturamento em 2012

120 funcionários

Fábrica em Porto Alegre

Ht Micron

Atua em encapsulamento de semicondutores

Previsão de R$ 100 milhões de faturamento em 2013

40 funcionários

Fábrica em construção no Tecnosinos, em São Leopoldo