25/05/2017
Jornal do Comércio
Especial | Pág. 42
Clipado em 25/05/2017 01:05:11
DIA DA INDÚSTRIA
Inovação gaúcha é destaque nacional

Líder em investimentos em Tecnologia de Informação (TI) na América Latina e um dos maiores mercados do setor em nível mundial, o Brasil tem no Rio Grande do Sul um de seus principais polos de pesquisa e desenvolvimento. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a indústria gaúcha apresenta, nacionalmente, o maior percentual de empresas que implementaram inovações a partir de projetos de pesquisa feitos em parceria com empresas e universidades.

“O Rio Grande do Sul tem um tecido industrial interessante, um quadro de universidades muito boas e um setor público importante”, analisa o geógrafo Iván Tartaruga, pesquisador da Fundação de Economia e Estatística (FEE), lembrando que a interação entre empresas, academia e governo é decisiva para a inovação, especialmente nos países mais desenvolvidos. “A crítica é não haver aqui (no Brasil) uma sinergia entre esses atores, que acabam não formando um sistema.” O setor ainda pode se expandir em termos qualitativos e quantitativos.

“Temos carência de programadores no Estado. Temos tradição de profissionais criativos, como ilustradores e roteiristas para games. Mas falta (quem faça) o código, que é o programador”, explica o diretor-presidente da regional gaúcha da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro), Alex Hermann. Na estimativa da entidade, há cerca de 400 vagas para programadores no Estado, com exigências cada vez mais específicas, segundo Hermann.

“O programador que fica sentado e não estuda as novas ferramentas vai ficar sem emprego no futuro.” Um futuro próximo, no qual a tecnologia será a grande protagonista. A chamada Internet das Coisas, ao lado do conceito de cidades inteligentes, sugere um universo de interatividade total. Identificação automática de pessoas e veículos, provadores que sugerem combinações de roupas em lojas, sinaleiras que automaticamente liberam o tráfego para ambulâncias em emergências e monitoramento digital da armazenagem de vacinas são algumas dessas possibilidades, que poderão tornar-se realidade nos próximos anos.

“Uma coisa fundamental na Internet das Coisas é você poder identificá-las. Outra é que algumas dessas coisas sejam inteligentes e possam se comunicar. O nosso chip pode ser a base para que tenhamos esse tipo de aplicação. Cada vez que utilizo isso em um determinado segmento, tenho vários softwares que vou precisar desenvolver”, explica Paulo de Tarso Luna, presidente da Ceitec – empresa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (Mctic), sediada em Porto Alegre e responsável por 45 milhões de chips presentes no mercado.

O caminho parece irreversível, também do ponto de vista empresarial. As mais de 250 startups em atividade no Estado – segundo número da Associação Gaúcha de Startups – serão importantes para apontar novos rumos, processos e produtos. “As empresas mais agressivas comercialmente vão crescer mais. A startup é agressiva, disruptiva, oferece algo que ninguém mais tem. O momento é de especialização”, analisa Hermann.

ENTREVISTA

Chips abrem portas para tecnologias futuristas

Identificação de pessoas e veículos, conexão inteligente entre sistemas de produção, transporte e serviços e autenticação de documentos são algumas das aplicações para os produtos da Ceitec – empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (Mctic), com planta em Porto Alegre. Em 2016, a companhia atingiu a marca de 45 milhões de chips vendidos no mercado privado, com R$ 4,486 milhões de faturamento. Demandas públicas, como fornecer chips para os passaportes brasileiros e para o Documento de Identificação Nacional (cuja criação foi aprovada pelo Senado em abril), também estão na mira da empresa. O presidente da instituição, Paulo de Tarso Luna, fala dos desafios da Ceitec.

Jornal do Comércio - Como foi o desempenho da empresa em 2016?

Paulo de Tarso Luna - O último ano tem sido um marco na história da empresa, porque foi um período em que finalizamos produtos importantes: o chip do passaporte, uma solução de identificação pessoal da Ceitec, e a nova versão do chip logístico. Hoje, no Brasil, você já tem chip no passaporte, em algumas carteiras profissionais e na carteira de identidade militar. Mas em nenhum desses três casos o chip é nacional. Então, agora que conseguimos a certificação internacional, estamos trabalhando para o chip do passaporte passar a usar o nosso chip. Em termos de faturamento, a Ceitec se manteve nos patamares do ano anterior, o que é um faturamento baixo ainda. O produto de identificação é talvez o que tem maior capacidade de alavancar o faturamento no curto prazo. A expectativa para este ano é um faturamento entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões. A partir de 2018, esperamos começar a ultrapassar a barreira dos R$ 50 milhões.

JC - Como evoluiu o volume de produção?

Luna - Produzimos algo em torno de 17 milhões de chips por ano. De alguns produtos, temos a capacidade de vender até o dobro disso. O que temos feito é tentar ampliar também essa capacidade, mas na medida em que temos novos potenciais de negócio. Uma parte muito complexa é a de testes. No caso do passaporte, você tem que garantir que o produto vá durar pelo menos 10 anos. Esse é um gargalo, então, quando aumenta muito o volume (de produção), é uma das áreas em que se tem de investir.

JC - Qual a perspectiva de crescimento do setor?

Luna - A área de tecnologia está sempre se expandindo. A diferença é que, no início da década, crescia na faixa dos dois dígitos, chegava a 10%, 12%. A previsão para este ano é em torno de 2,5% a 3%. Mas é uma área na qual, em geral, não há desemprego, porque, na prática, se eu quero economizar, tenho que investir em tecnologia. Então, se eu estiver me expandindo, vou precisar de mais tecnologia, e, se estiver me retraindo, vou precisar dela para tornar mais eficientes os meus recursos. Aquilo que antigamente era supérfluo, hoje é obrigatório. É preciso ter o antivírus, o sistema operacional, a licença do banco de dados. Também estamos no limiar de uma nova forma de lidar com a administração do dia a dia, que é a Internet das Coisas e as cidades inteligentes.