11/11/2012
Correio do Povo
Rogério Mendelski | Pág. 6
Clipado em 30/11/2012 12:11:54
Cuba e os gaúchos

A melhor informação (no juízo deste colunista) sobre a Cuba do ano de 2012 foi revelada pelo secretário Ivar Pavan (Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo), integrante da comitiva gaúcha que visitou a ilha dos irmãos Castro, numa missão liderada pelo governador Tarso Genro, integrada por empresários, secretários de Governo, deputados e jornalistas. O secretário Ivar Pavan, um defensor intransigente da reforma agrária e do MST, constatou o fracasso da distribuição de terras em Cuba. Terras para plantar existem à vontade, mas faltam agricultores, mesmo com o desejo de 190 mil jovens cubanos de se tornarem produtores de alimentos, desde que possam ser os reais proprietários de seus lotes. A reforma agrária de Fidel Castro, feita na marra, apenas levou a ilha, 50 anos depois, a importar seus alimentos com o abandono de 60% das terras agriculturáveis. Ouvi o secretário Ivar Pavan culpar o “bloqueio econômico” pela falta de máquinas e equipamentos agrícolas para as lavouras cubanas e a necessidade do uso de dezenas de milhares de juntas de boi na preparação da semeadura das terras. Por que não buscar tais equipamentos na China, na Rússia, na Espanha, tradicionais fabricantes de tratores e implementos? Esses países exportam automóveis para Cuba, desde que pagos com dólares, charutos ou açúcar. Aí não tem bloqueio dos EUA? Faltam tratores em Cuba porque não há recursos suficientes para tanta importação. Estive em Cuba 20 anos atrás, e já se via uma quantidade expressiva de tratores russos abandonados em fazendas nos arredores de Havana, por falta de manutenção, e as juntas de bois requisitadas provocaram a escassez de carne bovina (mesmo racionada) na mesa dos cubanos. O socialismo soviético implodira em 1989 e o fim de 70 anos de regime resultara no término da ajuda anual de 6 bilhões de dólares para Cuba. O que se espera da missão gaúcha é que nossas empresas — Randon, Agrale, Medabil e outras — tenham êxito nas negociações com Cuba, mas que não vai ser fácil receber dólares dos cubanos, ah... isso não vai.

O início de tudo

Em março de 1959, uma propriedade rural que criava matrizes de raça, na província de Camaguey, foi ocupada pelos revolucionários. Um touro avaliado em 22 mil dólares recebeu um tiro na testa e, em seguida, carneado para um grande churrasco pelos homens de Fidel Castro. “Es la revolución”, disse um barbudo ao proprietário que apenas respondeu: “Mesmo sua maldita revolução teria mais a ganhar com esse touro vivo”. Hoje, sabe-se o motivo.

Antes e depois

Em 1958, o ganho médio diário de um trabalhador rural cubano era de 3 dólares. Na mesma época, na França o ganho era de 2,73 dólares; na Bélgica, de 2,70 dólares; na Dinamarca, de 2,74 dólares; na Alemanha Ocidental, de 2,73 dólares; e nos EUA, de 4,06 dólares. Hoje, a renda mensal do mesmo trabalhador cubano é de 20 dólares. Ou 0,66 centavos de dólar por dia. Os dados são da OIT, em Genebra.

Comércio complicado

Em Cuba não existe um sistema econômico que facilite negócios de importação e exportação entre empresas, pois na ilha não há comércio internacional privado. Tudo está sob controle estatal e nem mesmo o modelo chinês de capitalismo ainda se aplica na ilha dos irmãos Castro.

Comparação incomparável

Houve quem tentasse estabelecer comparações entre o RS e Cuba, o que só nos levaria à hilária similitude do focinho de porco com a tomada elétrica. Se alguém pensa em levar vantagem num intercâmbio comercial do RS com Cuba, esse alguém é o governo cubano.

Ingenuidade americana

Em julho de 1959, um editorial do New York Times registrou assim a desapropriação de terras em Cuba promovida pela Revolução Cubana: “Uma reforma agrária era necessária há muito tempo em Cuba. Essa promessa de justiça social trouxe um cheiro de dignidade humana para milhões que nunca haviam visto na antiga economia quase feudal de Cuba”.