22/09/2017
Zero Hora
Notícias | Pág. 12
Clipado em 22/09/2017 02:09:35
Busca de nove meses por uma vaga
RECOLOCAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO na Grande Porto Alegre demora mais do que o dobro da espera de três anos atrás

Mesmo com os sinais de retomada da atividade econômica, a tentativa de recolocação no mercado de trabalho é um exercício de persistência na Grande Porto Alegre. Em julho, o tempo médio gasto na procura por emprego subiu para 39 semanas na região. Isso significa que os trabalhadores que perderam suas vagas ficaram em torno de nove meses buscando oportunidades. É o período mais longo desde dezembro, quando o intervalo era de 40 semanas, mostra a Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de Porto Alegre (PED-RMPA).

- A demora é resultado da crise. As empresas pararam de contratar, e há mais pessoas procurando trabalho - resume a economista Virginia Donoso, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), um dos responsáveis pela PED.

Ao longo de 2017, o indicador apresentou relativa estabilidade - em janeiro, estava em 38 semanas. Mesmo sem agravamento nos últimos meses, o intervalo de julho é mais do que o dobro do que o menor período da série histórica, iniciada há 25 anos. Em agosto e setembro de 2014, quando a recessão mostrava seus primeiros sinais no país, o tempo médio atingiu o piso de 18 semanas - o equivalente a quatro meses e meio - na Grande Porto Alegre.

- O indicador contempla quem, ao fim de um período, encontrou trabalho ou desistiu de procurar emprego - frisa Virginia.

DIFICULDADE É MAIOR PARA AS MULHERES E QUEM TEM MAIS IDADE

Em julho, o intervalo de busca por oportunidades foi maior para as mulheres (42 semanas, ou quase 10 meses) do que para os homens (35 semanas, ou oito meses). A pesquisa ainda mostra que os adultos (40 semanas - nove meses) passaram mais tempo do que os jovens (37 semanas - oito meses e meio) à procura de vagas na Grande Porto Alegre.

A porto-alegrense Sandra Molina Barbosa, 38 anos, tem o perfil de trabalhadores que permanecem em busca de recolocação no mercado por mais tempo. Desde que ficou sem emprego, há 13 meses, passou a circular pela Capital à procura de vagas em diferentes áreas.

- Na semana passada, entreguei meu currículo em 12 lugares - conta.

Agora, Sandra espera pela sua aprovação em processo seletivo para ocupar uma vaga de operadora de caixa de supermercado, função que exercia antes de engrossar o contingente de desempregados.

- Estou confiante - afirma.

A exemplo de Sandra, Wendel Hoffmann, 41 anos, também encara a escassez de oportunidades na Região Metropolitana. Em busca de ocupação desde que perdeu o emprego de motorista de caminhão, há um ano, o morador de Cachoeirinha começou a realizar trabalhos de maneira autônoma, como servente de pedreiro, para pagar suas contas:

- Tenho dois filhos. Não dá para ficar parado. Nunca tinha visto uma crise assim - relata.



"Trabalhava como motorista e, de um ano para cá, fiz serviços até em obra. Tenho dois filhos. Não dá para ficar parado. Está difícil para quem tem mais idade. Nunca tinha visto uma crise assim. Vários pais de família estão nessa situação." WENDELL HOFFMANN Desempregado há 12 meses

"Na semana passada, entreguei meu currículo em 12 lugares. Agora, estou participando de seleção para operadora de caixa de supermercado. Estou confiante. Meu marido trabalha com serviços gerais, e a gente se vira como pode." SANDRA BARBOSA Desempregada há 13 meses



Reforma deve gerar emprego, mas há dúvida sobre qualidade

De junho para julho deste ano, a taxa de desemprego na Grande Porto Alegre diminuiu de 11% para 10,4%. Conforme a PED, o percentual corresponde a 190 mil pessoas sem trabalho. Supervisora do Centro de Pesquisa de Emprego e Desemprego da Fundação de Economia e Estatística (FEE), também responsável pela pesquisa, Iracema Castelo Branco projeta que o indicador deve apresentar relativa estabilidade até o fim de 2017.

- Com a reforma trabalhista, que entra em vigor em novembro, até é possível que haja aumento na abertura de vagas. Mas isso não quer dizer que os novos empregos serão de qualidade - pondera.

PERSPECTIVA OTIMISTA PARA PRÓXIMOS MESES

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre), Bruno Ottoni avalia que, mesmo com o alto nível de desocupação no país, as perspectivas são "mais otimistas" para o restante de 2017 e o próximo ano.

- Na crise, muitas pessoas partiram para a informalidade por falta de opção. À medida que o mercado se recuperar, quem passou a exercer essas atividades poderá voltar à formalidade - estima.

Ottoni também afirma que as alterações previstas na reforma trabalhista podem acelerar a retomada do emprego no país. Para o especialista, a tendência é de que as mudanças não diminuam a qualidade das vagas abertas.

- A literatura internacional sugere que reformas podem ter impacto positivo na geração de empregos. Podem ser criados contratos mais flexíveis, mas os benefícios previstos ao trabalhador são os mesmos - afirma Ottoni.

QUANTO TEMPO LEVA (ver imagem)